quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Pedro Agilson > A chacina de Vigário Geral


Não tenho a pretensão de ter feito alguma foto histórica. O que será filtrado pela História nessa massa que produzimos?
Acho essa foto bem representativa de certo momento do trauma carioca e que ainda se agravou mais com o passar do tempo. A chacina de Vigário Geral. Saiu ao lado do editorial da IstoÉ na semana do fato, do Mino Carta.





Na verdade, não é a foto publicada, é uma das “sobras”. É complicado uma garimpagem nos arquivos das editoras... Enfim, essa é mal resolvida, mas passa o essencial, a vira-lata abrindo o cortejo.
Foi um dia tão forte que me surpreendi ao ver a foto publicada. Não tinha consciência que a tinha feito.


PedroAgilson > 58 anos, paulista (só de nascimento).
Comecei como fotojornalista em 72 por uma maluquice do Luis Humberto, no Jornal de Brasília, que decretou, como diretor de arte, que os diagramadores deveriam fotografar para sentir o drama dos fotógrafos. Já tinha uns cursos de fotografia na Universidade de Brasília e acabei tomando gosto pela coisa.
No Rio, free-lancer, agência, até ficar na IstoÉ por um bom tempo. Somando, uns 30 anos de fotojornalismo.
Hoje sou artista plástico e web-designer.

2 comentários:

Sérgio Borges disse...

Vigário Geral: tragédias por todos os lados
Por Gustavo de Almeida
"...Poucos sabem, mas há um PM no caso de Vigário Geral que acabou se tornando vitima. Trata-se de Sérgio Cerqueira Borges, conhecido como Borjão.
Borjão foi um dos presos que em 1995 já eram vistos como inocentes, colocados no meio apenas por ser do 9º´BPM. A inocência de Borjão no caso era tão patente que ele inclusive foi o depositário de um equipamento de escuta pelo qual o Ministério Público pôde esclarecer diversos pontos em dúvida.
Borjão foi expulso da PM antes mesmo de ser julgado pela chacina. Era preso disciplinar por "não atualizar endereço".
Borjão conta até hoje que deu depoimento em seu Conselho de Disciplina sob efeito de tranqüilizantes, ainda no Batalhão de Choque. Seus auditores sabiam disto. "No BP-Choque, fomos torturados com granadas de efeito moral as vésperas do depoimento no 2º Tribunal do Júri, cujos fragmentos foram apresentados à juíza, que enviou a perícia. Isto consta nos autos, mas nada aconteceu", conta Borjão, hoje sem uma perna e com a saudade de um filho, assassinado em circunstâncias misteriosas, sem que ele nada pudesse fazer.
"No Natal fui transferido para a Polinter. Protestei aos gritos contra a injustiça. e Me mandaram para o hospital psiquiátrico em Bangu mas, por não ter sido aceito, retornei e em dias fui transferido para Água Santa. Lá também fui espancado e informei no dia seguinte em juízo, estando com diversos ferimentos, mas sequer fiz exame de corpo delito. Transferido para o Frei Caneca, pude ajudar a gravar as fitas com as confissões e em seguida fui transferido para o Comando de Policiamento do Interior. Após a perícia das fitas fui solto. Dei entrevistas me defendendo e tive minha liberdade provisória cassada e me mandaram para o 12ºBPM a fim de me silenciarem. No júri, fui absolvido. Meus pedidos de reintegração à PM nunca foram respondidos".
A história de Borjão ao longo de todos estes 15 anos só não supera mesmo a dor de quem perdeu alguém na chacina. Mas eu não estaria exagerando se dissesse que Sérgio Cerqueira Borges acabou se tornando uma vítima de Vigário Geral. "Tive um filho com 18 anos assassinado por vingança. Sofri vários atentados e um deles, a tiros, me fez perder parcialmente os movimentos da perna esquerda. Sofro de diabete, enfartei aos 38 anos e vivo com um tumor na tireóide. Hoje em dia tento reintegração à PM em ação rescisória, o processo é o número 2005.006.00322 no TJ, com pedido de tutela antecipada para cirurgia no Hospital da PM para extração do tumor. Portanto, vários atentados à dignidade humana foram cometidos. As pessoas responsáveis nunca responderão por diversas prisões de inocentes? Afinal foram 23 inocentes presos por quase quatro anos com similares seqüelas. A injustiça queima a alma e perece a carne!", desabafa Borjão.
Borjão hoje conta com ajuda da OAB para lutar por sua reintegração. Mas o desafio é gigantesco.
Triste ironia do destino: o policial hoje mora em Vigário, palco da tragédia que o jogou no limbo.

A filha dele, no entanto, me contou há alguns dias que não houve tempo suficiente para esperar pela Justiça e pela PM - Borjão teve que operar às pressas o tumor na tireóide no Hospital Municipal de Duque de Caxias. A cirurgia foi bem. Sérgio Cerqueira Borges vai sobreviver mais uma vez.
Sobreviver de forma quase tão dura como os parentes de 21 inocentes, estas pessoas que sobrevivem mais uma vez a cada dia, a cada hora. No Rio de Janeiro é assim: as tragédias têm vários lados e a tristeza de quem tem memória dificilmente se dissipa. Pelo menos nesta data, neste 29 de agosto que nos asfixia.

http://odia.terra.com.br/blog/blogdaseguranca/200808archive001.asp

Sérgio Borges disse...

http://ondeoventofazacurvalagoinha.blogspot.com/2011/07/brasilianista-americano-ve-o-rio-em.html


Brasilianista americano vê o Rio em momento delicado.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/07/16/brasilianista-americano-ve-rio-em-momento-delicado-924922325.asp#ixzz1SpWgRROU
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WASHINGTON - Para o brasilianista americano Bryan McCann, historiador da Universidade Georgetown, em Washington, o Rio vive hoje um momento delicado por causa das incertezas em relação ao sucesso da política de implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), com o risco de se tornar "mais um projeto utópico".
Na preparação da cidade para receber a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), acredita que não há espaço para acordos com o tráfico de drogas como no passado. Há sete anos pesquisando sobre as favelas do Rio, ele finalizará em setembro seu ensaio sobre o tema, no qual investiga o período que define de "longos anos 1980" - de 1977, com a resistência da favela do Vidigal contra a remoção, até 1993, na chacina de Vigário Geral:
- Eu tinha uma perspectiva pessimista quando pesquisava no Rio em 2004 e em 2006. A cidade vivia uma fase horrível, e estudando esse período dava para entender como tudo isso surgiu. Com as mudanças nos últimos cinco anos, não se pode dizer que está tudo resolvido, a cidade está numa situação delicada, mas melhor - acredita.