quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Alex Ferro > Carnaval de Rua

Bom, a melhor forma de escrever sobre o ressurgimento do carnaval de rua só mesmo vasculhando a memória e os rascunhos da minha infância. Fui resgatar os momentos mais agradáveis dos meus tempos de moleque. Desde pequeno me sentia fascinado por aqueles personagens enlouquecidos que perambulavam pelas avenidas e ruelas do bairro. Figuras que invadiam o meu imaginário infantil e alimentavam as fantasias de um garoto. As cores das roupas, as máscaras estranhas e quase maléficas, me deixavam magnetizado. Por outro lado, as capas voando e adereços barulhentos me remetiam a uma liberdade não compreendida. O que era aquilo? Que seres eram esses que me deixavam apavorado e ao mesmo tempo, em estado de torpor. O som da bateria dos blocos e o barulho dos instrumentos, a fanfarra metálica das cornetas e das tubas, não surtiam em mim o mesmo efeito de pavor. Aquela música me colocava num lugar de total leveza. Só mais tarde, então, percebi que havia sido tomado, desde pequeno, pela pureza do carnaval. A algazarra produzida por pessoas simples se revelou numa paixão. E como fotógrafo, anos depois, me permiti sentir novamente as mesmas emoções. Hoje, não mais tremendo de medo, mas documentando profissionalmente as minhas lembranças de menino.
Como qualquer garoto nascido no subúrbio (me criei na Ilha do Governador), o carnaval sempre esteve presente na minha vida. Quando criança usava a fantasia que meus pais escolhiam e acreditavam ser perfeitas para mim. Portanto, creiam, já me vestiram de pirata e outras coisas. Mas a roupa de Clóvis era tudo. Parecia um celerado correndo atrás dos mais novos e tacando aquela bola no chão, absolutamente fascinado. Já na fase adolescente, eu não me obrigava mais a vestimentas tão infantis. Então, sempre em parceria com minha mãe, passei a desenhar as roupas que desfilaria pelas ruas. Coitada, ela sofreu com essa minha paixão. Quando carnaval se aproximava, Dona Icléia, não tinha um segundo de paz. Íamos os dois as lojas de tecido à procura pano ideal para a minha invenção. Como bom carnavalesco, eu não podia usar qualquer coisa. Tinha que fazer sucesso! E fazia. As criações por mim inventadas passaram ser copiadas pelos colegas. Era uma farra.
Assim que me tornei fotógrafo – década de 80 – e ingressei na Bloch Editores mais especificamente na revista Manchete, voltei a participar do carnaval. Só que me deparei com uma situação inusitada... Cadê o carnaval de rua? Em 1995 e 96, poucos blocos tinham conseguido resistir bravamente a um espírito maligno anticarnavalesco que chamo até hoje de “Zé Capenga”. Mas a partir de 1999 o carnaval de rua começa a florescer forte. E desde 1998, eu venho documentando o Carnaval de rua.

Carnaval de Rua, 2005, bloco Gigantes da Lira, Laranjeiras, Rio de Janeiro.

E para provar que a festa não morreu, meus caros, escolhi essa foto como testemunha desse renascimento divino e eterno do carnaval de rua.

(O texto contou com a colaboração de Claudia Lopes).


Alex Ferro > Após alguns anos – quase décadas – de música, dividindo minha vida com um piano, caí na fotografia libertadora dos exercícios e mais exercícios técnico-musicais. A vida pianística era de muitos sacrifícios, com fortes dores nos braços e mãos, essa coisa do Piano Mozartiano, Chopiniano, Beethoveniano etc... Não era mole não!
A fotografia caiu em minha vida como uma “asa libertadora”, me aproximando das verdades da vida, vivendo emoções. Reais emoções!
Comecei minha vida de fotógrafo na Universidade Gama Filho, 1989, logo depois ingressando no Jornal O Povo, veículo esse que me deu a imprescíndível frieza fotográfica, tão importante no dia a dia foto-jornalístico.
Saindo do jornal, fiz o sempre muito disputado curso Bloch, ingressando logo depois, 1996, em seu quadro de fotógrafos. Andei por quase todos os títulos dessa editora, de inúmeros ensaios de nu para a Ele&Ela, a horas e mais horas no estúdio, aprendendo. Enfim, no final das contas fui parar na Revista Manchete, o carro chefe da casa. Muitas viagens, matérias diversas. Muito trabalho!
E um deles, como dito no texto principal, o Carnaval, época em que toda a Bloch ficava em polvorosa.

Hoje em dia, participo da agência Pedra Viva (contato@pedraviva.fot.br), responsável em parte por manter a revista Manchete em circulação, através de edições especiais, como a cobertura, todo ano, do Carnaval.

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