quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Evandro Teixeira > Vinicius, Tom e Chico

Transcrição de depoimento (editado), gravado durante debate sobre Foto-jornalismo, no “Encontros no Sub-solo”, da Livraria Leonardo da Vinci, Rio de Janeiro, 27/06/2007:


A foto do Chico, Tom e Vinicius, porque...
Historicamente, acho que é uma foto importante pela história dos personagens, pelo momento... Acho que aquele, como diria o Cartier-Bresson, foi um momento inusitado. (...) Era o aniversário do Vinicius de Moraes, na Carreta, uma churrascaria lá, de intelectuais, de Ipanema e tal...
Eu fui fazer uma matéria para o Caderno B, como eu era amigo deles, e chegando lá... E o Caderno B tinha o deadline... E o pessoal estava lá desde o meio-dia, tomando cana, Chico, Vinicius, Tom... Ficamos lá, e eu não bebo, e ficamos lá... E o Vinicius de Moraes era casado, naquela época, com uma argentina, Marquita, que era uma menina linda, novinha, tinha 22 anos, linda, linda... Uma morena linda, argentina...
E ficava o tempo todo abraçando a Marquita e beijando, e bebendo, e cantando... E o Tom no violão, e o Chico, e tal... E eu estou clicando, fiz três, quatro filmes, sei lá... E quando eu estava vendo o relógio, eu falei: “Ô Vinicius, pelo amor de Deus, ô Vinicius!... Eu já fiz até agora, operei aqui, acho que três, quatro filmes, sei lá, mas todos os cliques iguais!... E eu tenho que fazer uma coisa diferente!... O Caderno B... Eu vim aqui fazer uma matéria para o B, e o B é uma página gráfica, são duas páginas...”
De repente, naquele rompante (eu levei um susto!), Vinicius pegou o Chico e o Tom: “então vamos fazer uma foto diferente!”
De repente, no fundo da Carreta tinha uma mesa... Deita o Vinicius, o Tom e Chico... E o Vinicius, num “pau” arretado... Mas, tava num “pau”, cara, tava lá... E eu, nervoso, aquela coisa inusitada ali, como é que eu vou fazer?... Eu gritei para o Teixeirinha: “Teixeirinha, me traz uma coisa aí para eu subir, porra!”, e tal... Fiquei nervoso, como é que eu ia fazer a foto deles lá na mesa?... Aí o Teixeirinha trouxe um tamborete. Eu, na correria, naquele nervosismo, subi no desgraçado, nervoso, o tamborete, fiz um clique. Aí, caí eu, caiu o tamborete, caiu todo mundo... E eu só fiz esse fotograma, né?... Foi o que salvou...




E a máquina enguiçou, porque eu segurei a câmera, mas, com o tombo no chão, segurei na mão, e aí prendeu o obturador. E não bati mais nada, "deixa isso pra lá, não quero saber de foto, mais porra nenhuma"...
Voltei para o jornal nervoso. E o Alberto Ferreira, que foi um dos maiores editores do Brasil: “cadê a foto?”... Eu disse: “eu acho que eu fiz...”. Eu nunca disse que eu fiz... Não, vamos revelar primeiro...
Aí, tinha aquela foto belíssima... Aí, o Alberto Ferreira ampliou 30x40, saiu gritando pela redação, o Alberto Ferreira era uma figura maravilhosa... Aí, ele saiu com aquela foto. As outras para o Caderno B, e aquela para a primeira página.



Transcrição de fala de Evandro Teixeira no filme “Evandro Teixeira, instantâneos da realidade” (37’):


E essa foto ficou na História. É uma das fotos mais publicadas, aí na imprensa, e nos livros, e nos jornais do Brasil. Qualquer livro de História da Música Popular, ou do Chico, ou do Vinicios, ela é publicada, é requisitada, é mostrada...


Evandro Teixeira > nascido na Bahia, começou a sua carreira de fotógrafo em 1958, no jornal Diário da Noite, no Rio. Em 1963, ingressou no Jornal do Brasil, onde está até hoje, cobrindo os principais episódios políticos, sociais e esportivos do país e eventos mercantes do cenário mundial.
Expôs em importantes cidades do mundo e suas fotos fazem parte dos acervos do Museu de Arte Moderna do Rio, Masp e Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de Belas Artes de Zurique, Suíça e Museu de Arte Moderna La Tertulia, Cáli, Colômbia.. Seu nome e currículo estão na Enciclopédia Internacional de Fotógrafos, onde estão reunidos os maiores nomes da fotografia no período de 1839 até os dias de hoje.
Recebeu, entre outros, os prêmios Sociedade lnteramericana de Imprensa (1969), e dos concursos internacionais da Nikon (Japão, 1975 e 1991) e da UNESCO (1993).
Publicou os livros "Evandro Teixeira - Fotojornalismo" (1982), "Canudos 100 Anos" (1997) e “Tributo a Neruda” (2005).

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